Com alma de pesquisador, Marcos Nascimento desenvolve o Projeto Bioma da Caatinga e elabora receitas com PANCs (plantas alimentícias não convencionais).
Logo após concluir o curso de Tecnologia em Gastronomia, o chef Marcos Lôbo Nascimento, de Recife, PE, procurava um tema para continuar suas pesquisas acadêmicas. Conversando com um dos professores, teve a ideia de desenvolver um projeto a partir de seus conhecimentos sobre o Bioma da Caatinga e a cultura PANC – Plantas Alimentícias Não Convencionais.
Com o acompanhamento do doutorando Antônio Gomes, o chef Marcos iniciou o projeto, que foi apresentado pela primeira vez no Paço Alfândega, em Recife, e “ganhou a estrada pelos interiores do agreste e do sertão”, ele conta. Depois, a apresentação passou para escolas estaduais de Educação Profissional, cursos e universidades que convidam o chef para abordar o tema.
Chef Marcos Lôbo Nascimento
De acordo com o IBGE, bioma é um conjunto de vida vegetal ou animal. O Bioma da Caatinga é o principal ecossistema existente na Região Nordeste, estendendo-se em uma área de 844.453 Km² ou 9,92% do território nacional, segundo dados desse Instituto.
A vegetação da Caatinga se caracteriza por formações de plantas secas e espinhosas, arbustos e pequenas árvores. Mas também tem a cultura PANC (Plantas Alimentícias Não Convencionais) com o mandacaru, umbu, coroa de frade, palma, facheiro, serralha, pitanga, mandioca, fava, macaxeira, batata doce, umbu e suas folhas, seringuela e suas folhas e outras floras que só o sertanejo conhece. Essas plantas podem se constituir em importantes fontes alimentares, devido à sua composição nutricional e, com técnicas adequadas de preparo, tornarem-se comidas saborosas, sendo inclusive uma forma de cultivo sustentável por já fazerem parte do bioma local do sertão.
Os hábitos alimentares das populações sertanejas estão intimamente relacionados com as questões históricas do processo de colonização e com os fatores climático-geográficos da região. O uso de produtos resistentes à seca surge como última opção e, normalmente, atrelado a preconceitos no consumo por serem utilizados como ração animal.
O Projeto Bioma da Caatinga é uma vivência de mudanças para o sertanejo que, nestes 50 anos, conviveu com a seca e passou a acreditar na sua flora como forma de complemento alimentar não só para os animais e, sim, também para sua sobrevivência. O sertanejo quebrou o preconceito de que a vegetação, no período de longas secas, não poderia mantê-lo e passou a entender que cada ingrediente tem seu valor no preparo de receitas que fazem parte dos pratos que leva para sua mesa.
Fugir desse preconceito foi demorado, pois só o sertanejo entende a flora do seu bioma e sabe que ela não foi criada por acaso. Ser filho de um sertanejo e aprender a usar a flora do seu bioma desde a minha infância me fez ver, depois da minha volta ao Nordeste, que as preparações que aprendi ainda criança não podiam ser esquecidas. Assim, retornei aos meus estudos e viajei para várias localidades que fazem parte do Bioma da Caatinga para coletar material de pesquisa.
Visitando várias cidades, como Surubim, Taquaritinga do Norte, Vertentes, Gravatá, Garanhuns, Madre de Deus, Caruaru, Bezerros, Canindé de São Francisco, Inhapi, Beberibe, Itapajé e Baturite, abracei com empenho a proposta de divulgar a Gastronomia PANC do agreste e do sertão.
Como filho do agreste e do sertão, vivenciei toda a seca e fome que vi o povo passar, durante muitos anos, e buscar uma forma de completar sem preconceito toda esta cultura me fez pensar como cozinheiro.
O mais importante de tudo isso foi que, a partir do conhecimento de quem vive no semiárido, montei um projeto transformando a flora do bioma em receitas que por 50 anos estão ali alimentando o povo da zona urbana das cidades do interior e da zona rural, pois não podia deixar que as receitas originais se perdessem no tempo. Para mim, levar o conhecimento da flora às escolas e aos vilarejos da zona urbana e rural e falar da cultura PANC (Plantas Alimentícias Não Convencionais)do bioma significa mostrar o valor nutricional de cada planta e trocar conhecimento sobre esses ingredientes que estão ali, em cada quintal ou até mesmo nos terrenos das cidades. Ensinar como usara flora do bioma como forma alimentar é proteger seu caráter e sua vida!
Fonte/Créditos: Sucesso na Cozinha
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Chef Marcos Lôbo Nascimento – Tecnólogo em Gastronomia pela Universidade Maurício de Nassau (PE), com diversos cursos complementares na área de Alimentos & Bebidas e participação em eventos do setor de vários Estados brasileiros. Atuou em restaurantes de São Paulo (SP), Petrópolis (RJ), Rio de Janeiro (RJ) e Recife (PE). Atualmente, é consultor em Gastronomia pela ML Consultoria SA e apresenta o Projeto de Gastronomia do Bioma da Caatinga nas regiões do agreste e sertão, além de se preparar para o mestrado em Bioquímica dos Alimentos.
É hora de apoiar esses pesquisadores brasileiros que buscam soluções alimentícias para os mais sofrido do nosso país. Parabéns M. Lobo.
Que maravilha chef. Sempre estudando novas alternativas alimentares. Parabéns!!!
Muito bom a matéria sobre PANCs,acho que devamos ter uma divulgação mais ampla sobre o tema.
Gostaria de parabenizar o Chef Marcos Lobo, pelo seu trabalho de divulgação dessas fontes alternativas de alimentos, que só enriquece, mais ainda, a gastronomia nordestina.
Parabéns amigo, você é dedicado naquilo que faz e graças a Deus vem colhendo os frutos de todo trabalho durante muitos anos você merece esse reconhecimento, fico feliz por você está realizando esse seu projeto, lhe desejo muito mais sucesso na sua vida .
Grande chef Marcos lobo.
Parabéns e muito sucesso.
Esse merece respeito pelo grande e belíssimo trabalho que faz.
Nós do slow food apoiamos trabalhos assim que promovam e protejam o nosso patrimônio biocultural, parabéns
Parabéns!!! Sensacional o seu trabalho propiciando benefícios para todos nós !
Buscar soluções dentro do próprio contexto, através do conhecimento deste, lembra a pedagogia de Paulo Freire. Perfeito! Parabéns à equipe!
Gostaria de parabenizar o Chef Marcos Lobo, pelo seu trabalho de divulgação dessas fontes alternativas de alimentos, que só enriquece, mais ainda, a gastronomia nordestina. Isso é Brasil!
Parabéns pela iniciativa, fico feliz por termos pessoas que buscam revolver os problemas relativos a falta de alimento com idéias criativas e muita pesquisa, Afinal tudo que precisamos esta ao nosso redor.
Parabéns chef Marcos
Sempre procurando novas plantas, para os menos favorecidos.