Acaba de ocorrer a premiação brasileira do Guia Michelin: três restaurantes receberam duas estrelas e 16, uma condecoração. Por ora, o guia só atua no eixo Rio-São Paulo e não há previsão de entrada em outras cidades. Porém, fica no ar a pergunta: o que, realmente, significa essa premiação?
O berço do guia, a França, não é mais tão receptivo a ele. Criou-se inclusive um termo: “a maldição do Michelin”. A alcunha designa o fardo que o estabelecimento passa a carregar depois de receber tal medalha. Primeiramente, as mudanças no salão. Embora a premiação, oficialmente, trate apenas da comida, as casas precisam investir pesado em louças, guardanapos e decoração.
Chefs também reclamam da mudança de público gerada pelas estrelas. Ao ver a tradicional marca vermelha na porta, o comensal passa a esperar um cardápio com ingredientes diferenciados (como lagosta, cordeiro e caviar) e um serviço luxuoso. Isso inflaciona os preços do cardápio e altera o perfil dos frequentadores.
A insatisfação é tamanha que alguns chefs chegam a abdicar de suas estrelas na tentativa de se manterem fiéis às suas propostas gastronômicas.
No Brasil, há questionamentos sobre os critérios da premiação local, pois os jurados ignoram restaurantes que configuram nas listas mundiais e condecoram aqueles pouco enaltecidos pela crítica nacional. Fato é que o prêmio por aqui ainda não possui a força adquirida no restante do mundo.
As estrelas ainda são consideradas uma honraria para a maioria do meio gastronômico, mas não necessariamente uma garantia de retorno financeiro ou realização profissional. Do ponto de vista do consumidor, funciona como um guia na busca por refeições de qualidade. No entanto, o prestígio tem diminuído consideravelmente.